O CRUZEIRO DO SUL


Apesar de ser uma constelação menor, a Cruzeiro do Sul é considerada uma das mais importantes, principalmente para os povos do hemisfério Sul. Ela faz parte das 88 constelações reconhecidas pela União Astronômica Internacional (UAI).

João de Faras, astrônomo da esquadra de Cabral, foi o primeiro a documentar a existência da constelação em forma de cruz, em 1500. Outra referência importante ao Cruzeiro do Sul foi a realizada por Florentino Corsali, em 1515, chamando-a de Cruz Maravilhosa. Entretanto, somente em 1617, através de estudos realizados por Augustim Royer, foi estabelecido o nome de Cruzeiro do Sul.

É uma das formações mais conhecidas do céu meridional. Localiza-se próximo do Polo Sul e sua visualização só é possível nesse hemisfério e em algumas regiões do hemisfério norte próximas à linha do Equador. É composta pela Estrela de Magalhães – a mais brilhante, localizada na parte inferior do braço mais extenso da cruz; Mimosa – a segunda mais brilhante, que representa um dos lados do braço menor da cruz; Pálida – que recebe esse nome pelo fato de ser a estrela menos brilhante e compõe um dos lados do braço menor da cruz; Rubídea – que possui uma coloração avermelhada e representa a parte superior do braço maior da cruz; Intrometida – que é a quinta estrela, e recebe essa denominação por não integrar a formação da cruz – sendo menos brilhante que a Pálida, mas no entanto é de fundamental importância, pois facilita a localização da constelação.

Vários historiadores descrevem a importância náutica da constelação porque ela estabelece uma direção segura. Provavelmente, o que a trouxe para o CBC, e também para a simbologia nacional, é de origem filosófica. Porém nosso idioma, incorporou o termo nortear, diferente de sulear, verbo transitivo direto que significa caminhar em direção ao norte. No sentido figurado – guiar-se numa dada direção geográfica, mas também moral, intelectual.

Em 1991 o físico, antropólogo e museólogo Marcio Campos publicou o texto ‘A Arte de Sulear-se’, no qual, pela primeira vez, fez-se menção aos termos “sulear-se” e “suleamento”. Nessa publicação, ele questiona a demarcação de certos espaços e tempos, períodos e épocas da História Universal e da Geografia que foi imposta pelos países considerados centrais no planeta. No que se refere à orientação espacial, por exemplo, sobretudo com relação aos pontos cardeais a às regras práticas ensinadas, pois essas são práticas apenas para quem se situa no hemisfério norte e a partir de lá se norteia. Tal perspectiva influenciou diretamente na elaboração dos globos terrestres, mapas e materiais didáticos, nos quais o hemisfério norte sempre foi apresentado para cima, em uma posição superior ao sul.

No hemisfério norte, a Estrela Polar, Polaris, permite o norteamento. No hemisfério sul, o Cruzeiro do Sul permite o suleamento. E problematiza: “Apesar disso, em nossas escolas continuamos a ensinar a regra prática do norte, ou seja, com a mão direita para o lado do nascente (leste), tem-se à esquerda o oeste, na frente o norte e atrás o sul. Com essa pseudo regra prática dispomos de um esquema corporal que, à noite, nos deixa de costas para o Cruzeiro do Sul, a constelação fundamental para o ato de sulear-se”.