A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foi palco do lançamento oficial da Demografia Médica no Brasil 2025 (DMB 2025), estudo conduzido pela Associação Médica Brasileira (AMB) em parceria com o Ministério da Saúde. Reconhecido como o levantamento mais completo e atualizado sobre a profissão médica no Brasil, o relatório apresenta dados inéditos sobre a formação, distribuição, oferta e prática médica no território nacional, com projeções estratégicas até 2035.
A edição deste ano representa um marco na história da demografia médica brasileira, reunindo 10 estudos independentes conduzidos por 22 pesquisadores de instituições renomadas. O trabalho contou ainda com o apoio técnico e institucional da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), do Ministério da Educação (MEC), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do decisivo protagonismo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC).
O papel estratégico e científico do CBC
A participação do CBC foi fundamental para a realização e robustez metodológica da pesquisa. A instituição contribuiu com dados qualificados e análises aprofundadas sobre a atuação dos cirurgiões brasileiros, enriquecendo especialmente os estudos relacionados à produção de cirurgias, vínculos empregatícios e renda dos profissionais da área cirúrgica.
Segundo o presidente do CBC, Dr. Pedro Portari, “a nossa contribuição foi através de dois membros do colégio, o Professor Ramiro Colleoni Neto e o Doutor Gerson Pereira. Eles ajudaram na confecção do instrumento de pesquisa, ou seja, no questionário”. Ele complementa: “O colégio permitiu ao grupo da pesquisa o acesso aos cirurgiões, membros do CBC, em todo o país, graças à nossa capilaridade. Fomos fundamentais para garantir uma boa adesão dos profissionais ao inquérito nacional”.
O estudo revela dados inéditos sobre a desigualdade na oferta e no acesso a cirurgias no Brasil. “Os principais desafios incluem a concentração importante de médicos cirurgiões nas regiões Sudeste e Sul, enquanto há escassez significativa no Norte e Nordeste. Isso evidencia a relação direta entre a distribuição dos profissionais e o desenvolvimento econômico regional”, aponta Portari.
Para o coordenador da pesquisa, Dr. Mário Scheffer, “o CBC teve uma participação importante na adesão dos cirurgiões. Contribuiu para divulgar a pesquisa e fazer com que tivéssemos uma boa adesão, o que permitiu entrevistar 1.544 cirurgiões no inquérito nacional ‘Os Cirurgiões no Sistema de Saúde’”.
Novidades e projeções até 2035
Um dos principais destaques da DMB 2025 é o Atlas da Demografia Médica, uma ferramenta interativa e detalhada que apresenta informações atualizadas sobre a atuação dos médicos nas 27 unidades da Federação e nas 55 especialidades reconhecidas no país. Além disso, o relatório aprofunda análises sobre a residência médica e os cursos de graduação em medicina, evidenciando as assimetrias regionais e os desafios na formação de profissionais qualificados.
Para Scheffer, “trabalhamos com projeções da oferta de médicos para os próximos 10 anos, o que é fundamental para o planejamento da força de trabalho, especialmente diante da rápida expansão de cursos e vagas de medicina. Em 2025, o Brasil alcançará a marca de 3 médicos por mil habitantes, com possibilidade de chegar a 5 por mil até 2035”.
Outro dado relevante é a mudança no perfil da profissão: “As mulheres passam a ser maioria entre os médicos e, em uma década, representarão 56% da força de trabalho médica. No entanto, ainda são minoria nas especialidades cirúrgicas”, observa o pesquisador.
Desigualdade no acesso e tecnologia
O levantamento também destaca profundas disparidades entre o setor público e o privado. “Escolhemos três cirurgias gerais muito frequentes — apendicectomia, colecistectomia e correção de hérnias — e identificamos uma diferença gritante na oferta entre usuários de planos de saúde e do SUS. A videolaparoscopia, por exemplo, é muito mais acessada no setor privado”, alerta Scheffer.
Segundo ele, “há evidências de que a videolaparoscopia resulta em menos complicações e recuperação mais rápida. Ainda assim, no SUS, a maioria das cirurgias ainda ocorre por via aberta, o que reforça a necessidade de investimentos em tecnologia, capacitação e infraestrutura”.
Impacto e relevância
Para o presidente do CBC, “a participação do Colégio nesse movimento é uma honra muito grande e de grande importância. A Demografia Médica é um instrumento essencial para o planejamento de ações de saúde pública e para compreender a real distribuição dos médicos e cirurgiões no país”.
A DMB 2025 representa não apenas um retrato preciso do presente, mas também uma bússola para o futuro da profissão médica no país. Ao oferecer dados confiáveis, acessíveis e integrados, o estudo se consolida como referência para pesquisadores, formuladores de políticas públicas e instituições comprometidas com o fortalecimento do sistema de saúde.
O papel do CBC, ao lado das demais instituições envolvidas, reafirma seu compromisso com a valorização da profissão médica e com a excelência da prática cirúrgica, contribuindo ativamente para uma medicina mais equitativa, eficiente e centrada na qualidade da assistência à população.