Artigo – A delicada escolha do novo ministro da Saúde.

Cabe ao próximo presidente da República, eleito em outubro, selecionar para a pasta alguém de fato comprometido com a sociedade

O cargo de ministro da saúde estará em breve vago. Graças a Deus!

A permanência no cargo foi em média de 20 meses nos últimos 50 anos, e o ministro que mais tempo permaneceu na função foi o médico Waldyr Arcoverde, por 65 meses, no governo do General Figueiredo. O médico Paulo Machado permaneceu, por 60 meses, no governo do General Geisel; o Economista José Serra, por 47 meses, no segundo governo Fernando Henrique Cardoso; o médico José Temporão, por 45 meses, no segundo governo Lula.

Com esse breve histórico, algumas perguntas exigem um posicionamento dos candidatos a presidente da República.
Continuarão as constantes mudanças no Ministério da Saúde, que é o responsável pelo maior orçamento entre todos os ministérios? O ministro será escolhido por estar na “cota” de um partido político? Continuarão os escândalos de corrupção e a volta de epidemias, e, mais, o aparelhamento político, impostos extorsivos e renúncias fiscais, que geram prejuízos aos pacientes, profissionais da saúde e empresários?

Continuaremos a copiar o de pior do modelo americano, que permanece em último lugar quando comparado com o do Reino Unido, Austrália, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Alemanha, Canadá e França? Essa classificação, que permanece semelhante há décadas, considera o acesso da população ao sistema, seus custos e o resultado dos tratamentos. Os EUA contribuem muito para o progresso da medicina, mas adotam um modelo cruel para os pobres.

Por último, por que continuar o negócio da proliferação de faculdades de medicina de má qualidade e que enriquecem seus “sortudos” proprietários?

A ausência de compromissos de longo prazo, nomeações políticas até para chefias técnicas, falta de um plano de carreira (como há no Judiciário), as (des)organizações sociais (terceirização irregular de atividades-fim), que trocam o corpo técnico seguidamente, e a falta de concursos públicos para repor os servidores que se aposentam desestruturam o sistema de saúde. Não custa lembrar que é o sistema público o principal responsável pela vacinação, emergências e transplantes de órgãos; que o sarampo, hepatite e tuberculose não são evitados com perfumes caros; que uma carteira de plástico do plano de saúde nada vale num desastre; e que a fila em busca de um órgão é única e pública.

Mesmo quem critica o educador Paulo Freire há de concordar com sua afirmação de que “… a melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível fazer hoje é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito…”. Que eu resumo como: o certo é certo, mesmo que poucos o façam, e o errado é errado, mesmo que a maioria aja desta forma.

O despreparo da gestão e a corrupção deterioraram nosso sistema de saúde, e o governo insiste em privatizar o público, sem regular o privado. Caberá ao novo presidente escolher e manter estável no posto um ministro preparado para a missão – comprometido com a saúde – e que saiba dialogar com a sociedade, independente do CEP, CNPJ ou CPF.

TCBC  Alfredo Guarisch

Artigo publicado no jornal O Globo – edição de 14/08