Artigo CBC: Doutor posso ir de avião?

O cirurgião Alfredo Guarischi explica quais condições de saúde devem fazer a pessoa adiar uma viagem aérea e como problemas médicos podem ser solucionados nas alturas

Essa é uma pergunta frequente, e a resposta pode não ser simples.

Pessoas saudáveis durante ou após um voo de longa duração eventualmente podem ter problemas, em geral leves e de fácil resolução. Mas a cada dia vemos idosos e pacientes com problemas controlados de saúde que descompensam sua condição clínica após longas viagens aéreas. Estima-se que ocorra uma emergência médica a cada 600 vôos, desde problemas simples a situações graves. Felizmente, aviões comerciais hoje são obrigados a ter uma mala de primeiros socorros – instrumentos e medicamentos – para atender às mais freqüentes situações, e a tripulação tem treinamento para atendimento inicial em emergência.

Sempre que ocorre alguma situação anormal, a rotina é ouvir a voz da cabine de comando perguntando: “Há algum médico a bordo?”. Quem passou por essa situação, como paciente ou como médico, nunca vai esquecer.

Os maiores problemas estão relacionados a alterações digestivas, de ouvido e pequenos ferimentos decorrentes de turbulência; porém, mesmo numa cabine pressurizada, podem ocorrer situações cardiológicas, neurológicas e pulmonares graves, devido à grande altura dos vôos, o que aumenta substancialmente a gravidade dessas situações.

Não tendo médico a bordo, a tripulação intervém, pois é treinada periodicamente no atendimento de emergências. Algumas companhias aéreas têm serviços de consultoria – Telemedicina – que permitem resolver com sucesso muitas situações. Quando há um médico a bordo, ele deve se apresentar como voluntário. Não é uma situação simples prestar atendimento de urgência numa cabine de avião, com muitos passageiros e eventualmente com uma situação clínica para a qual o médico não tem experiência. Enfermeiros, fisioterapeutas ou outros profissionais de saúde que estejam a bordo são bem-vindos e também podem contribuir, somando experiências.

Pacientes que tiveram problemas médicos graves ou cirurgia recente devem esperar o melhor momento para viajar. Dependendo da situação, é prudente calcular o prazo previsto para uma viagem terrestre segura e acrescentar mais duas semanas para ele viajar de avião, sendo importante sempre avisar a companhia aérea sobre sua condição clínica e da necessidade de cuidados especiais antes, durante e após o voo.

O Conselho Federal de Medicina publicou duas cartilhas que podem ser acessadas gratuitamente e que trazem importantes informações, mas nunca deixe de consultar um médico, que em casos especiais, poderá ter a necessidade de ajuda de um especialista em medicina aeroespacial.

Independentemente de sua situação, durante o vôo qualquer pessoa não deve se esquecer de beber bastante água e, sempre que não precisar estar com o cinto de segurança afivelado, dar uma caminhada a cada hora para evitar trombose das veias.
Boa viagem.

 

Artigo publicado no dia 26 de agosto, no Jornal O Globo – na editoria de Sociedade.