Virchow, o Pai da Patologia.

Cientista revolucionou área médica e mostrou a importância de tornar público o conhecimento.

Rudolf Virchow (1821-1902) é considerado o Pai da Patologia, especialidade médica que estuda as alterações estruturais e funcionais nas células e órgãos e busca explicar os mecanismos pelos quais surgem as doenças. É a mais desafiadora de todas, pois é a da qual esperamos a palavra final.

Formado em medicina na Universidade de Berlim aos 22 anos de idade, tornou-se professor logo depois. Responsável pela patologia do maior hospital de Berlim, estimulava seus alunos a realizarem necropsias para aprenderem sobre o que havia ocorrido com o falecido.

Nesse período a evolução das doenças era pouco compreendida, e muitos patologistas proeminentes achavam que as alterações patológicas ocorriam devido a um desequilíbrio no sangue. Virchow, em 1845, foi o primeiro a demonstrar que as células doentes derivam das células sadias de tecidos normais: “Só há vida por meio da sucessão direta”. Dessa forma não aceitava a teoria sobre os germes como causadores de todas as doenças. Nessa mesma época foi quem primeiro descreveu a leucemia de forma objetiva, além de introduzir os termos trombose e embolia.

Alguns o consideravam arrogante, devido ao seu modo de defender suas posições científicas e políticas. Irritado pela rejeição de alguns de seus artigos ou pela demora em serem publicados, criou, em 1847, com seu colega Benno Reinhardt, sua própria revista médica, hoje conhecida como “Virchow’s Archive”. Com a morte precoce do amigo, continuou como único responsável por quase duas centenas de edições da revista, considerada uma das principais publicações médicas européias. Abrangendo diversos temas, ela apenas aceitava trabalhos originais, diferentemente da maioria das outras revistas científicas, focadas num público especializado. Sua revista era para todos, incluindo leigos, pois acreditava que “não adianta mostrar os avanços científicos apenas na forma de teses. É preciso tornar o conhecimento acessível. A ciência avança a passos rápidos, e a imprensa precisa se adequar a isso”. Nada mais atual, ouso afirmar.

Em um artigo, “Folhas de recordações”, em tradução livre, descreveu sua atividade médica e a realidade social de seu país, que acabaram por motivá-lo a refletir sobre a dimensão social da medicina. Enquanto forma discursiva, esse artigo dificilmente seria publicado em outra revista científica desse porte, naquele período.

Conhecedor de oito línguas e fascinado por história, arqueologia e antropologia, viveu nos momentos mais complicados do Império Prussiano. Foi intelectual e humanista. Sua postura política sobre a necessidade de uma reforma social o levou a um debate com o todo-poderoso chanceler Otto von Bismarck.

Personagem influente na política alemã, foi por anos deputado, mas jamais deixou seu trabalho médico. Sabia que tornar público o conhecimento científico é tão importante quanto “fazer ciência”, devido às questões sociais, culturais e econômicas que ele envolve.

Virchow continua atual.

TCBC Alfredo Guarischi

Artigo publicado no site do O Globo no dia 22/01/2019