CEP 05885-210- O Cirurgião e São Lucas

Eurico Branco Ribeiro dedicou décadas à escrita de livros sobre o Patrono dos Médicos

Os nomes das ruas são definidos pelas Câmaras de Vereadores, sendo que na maioria das cidades brasileiras essa homenagem só pode ser atribuída a pessoas já falecidas, acontecimentos ou datas importantes.

No bairro de Jardim Lilah, em São Paulo, há uma pequena rua com o nome de Eurico Branco Ribeiro (1902-1978), filantropo e um dos fundadores do Rotary Club Brasileiro. CEP 05885-210.

Por isso virou nome de rua? Vamos lá.

Titular emérito da Cadeira 21 da Academia de Medicina de São Paulo, esse paranaense nasceu em sua casa em Guarapuava. Aos 10 anos de idade, já escrevia para o jornal “A Nação”. Aos 12 anos, colaborava no “A Comarca de Guarapuava”. No ano seguinte sua família se mudou para São Paulo, e o adolescente tornou-se redator da edição vespertina “O Estadinho” do jornal “O Estado de S. Paulo”. Foi posteriormente repórter policial e redator da “Folha da Noite”. Sim, repórter policial.

Mas era pouco.

Formado em medicina em 1927 pela Universidade de São Paulo, se especializou em Cirurgia Geral. Foi assistente a vida toda do Dr. Benedito Montenegro (1888-1979), o primeiro cirurgião brasileiro a publicar um caso de retirada total do estômago – gastrectomia total. Mas Eurico era um habilidoso cirurgião ambidestro, tendo realizado mais de 31.500 cirurgias.

Trabalhou em diversos hospitais, sendo o diretor do Sanatório São Lucas (1939-1978) desde sua fundação, onde foi um catedrático sem cátedra. Treinou cirurgiões de toda a América Latina, demonstrando que a excelência da medicina pode ser exercida em muitos locais.

Com tudo isso jamais deixou sua paixão pelas letras, tendo sido o fundador da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores. Publicou 29 livros, entre ensaios, biografias e não ficção. Foi diretor e redator por 45 anos dos “Anais Paulistas de Medicina e Cirurgia”.

Planejou durante 30 anos escrever sobre a vida de São Lucas, em 10 volumes, mas sua morte interrompeu essa obra, “Médico, pintor e santo”, no quarto volume. Num dos trechos refere que, já em 1463, a Universidade de Pádua iniciava o ano letivo em 18 de outubro, em homenagem a São Lucas, que é o Dia dos Médicos na Itália, França, Espanha, Portugal e muitos outros países. No Brasil essa comemoração é uma conquista graças à inflexível tenacidade e a liderança de Eurico.

Escreveu também “O Livro que Lucas não Escreveu” e “Lucas, o Médico Escravo”.
Esses estudos fizeram com que Eurico fosse considerado o maior entendido de Lucas no mundo, pois escreveu a verdadeira vida e não o romance do Patrono dos Médicos.

Mas continuava pouco.

Este ano o Capítulo de São Paulo, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), criou o Prêmio Eurico Branco Ribeiro, a ser conferido a membros do CBC de expressiva contribuição ao Estado de São Paulo, ao longo de sua carreira.
Abriu-se uma longa estrada para os discípulos de Esculápio o deus grego e romano da medicina e da cura -. e Lucas, assim como uma oportunidade para a Medicina brasileira compartilhar a história de seus heróis.

TCBC Alfredo Guarischi

Artigo publicado no jornal O Globo do dia 19/03.