Dia das Mães

A cada dia o exercício da medicina é um novo aprendizado. Uma nova reflexão.

O Dia das Mães, comemorado em diversos países, é uma data móvel no Brasil, o segundo domingo de maio. Este ano coincidiu com o Dia Internacional da Enfermagem, 12 de maio.

O Dias das Mães, apesar do viés mercadológico – um dos mais importantes dias para o comércio –, é uma data de singular importância, por reforçar os vínculos familiares, sinônimo de afeto e carinho. Desde a Antiguidade, há relatos de rituais em torno de figuras mitológicas maternas, sobretudo Eva e Maria. Contudo, as mães passaram a ter um dia oficial para serem homenageadas apenas no século passado.

O Dia da Enfermagem é fixo porque corresponde à data de nascimento de Florence Nightingale. Nascida em uma rica e poderosa família inglesa, aos 20 anos de idade implorava a seus pais que abandonassem o desejo de fazê-la uma menina prendada a esperar um casamento pomposo e a deixassem seguir com seu entusiasmo pela matemática e pela estatística. Relutavam, pois “seria terrível deixar uma filha ser enfermeira”, na época considerada uma profissão subalterna e depreciativa. Mas Florence era decidida e, aos 29 anos de idade, viajou pela Europa, para ver o trabalho da enfermagem em diferentes hospitais, iniciando seus estudos como enfermeira no Egito. Criou o primeiro grupo de enfermeiras para atender os feridos na Guerra da Criméia. Desafiando os generais médicos ingleses, demonstrou que os soldados feridos tinham mais chances de morrer de doenças hospitalares, como falta de higiene, do que no campo de batalha. Melhorando as condições sanitárias dos hospitais e sistematizando a lavagem das mãos, a mortalidade caiu de 60% para 42%. Seu livro “Notas sobre Enfermagem” “… não foi escrito para ensinar enfermeiras a serem enfermeiras, mas para ajudar pessoas que cuidam de suas famílias como verdadeiras enfermeiras”. Florence morreu em 1910.

Desde que entrei na Faculdade de Medicina, em 1969, por sete vezes o Dia das Mães coincidiu com o Dia da Enfermagem.

Operando e cuidando de pacientes, tenho a dimensão da finitude e o do significado de estar internado, especialmente em datas festivas. A companhia de técnicos, enfermeiros e enfermeiras tem sido fundamental para cumprir minha missão. Esses profissionais, mal remunerados e com desgastante carga horária de trabalho, são soldados num exército desorganizado e apenas lembrados como os do panteão dos desconhecidos, apesar serem mais de 75% dos profissionais da saúde que atuam diretamente do cuidado aos pacientes.

Este ano foi muito bom poder abraçá-los nesse dia duplamente especial. Que felicidade sentir a perseverança e dedicação desses colegas, que fazem da arte maternal de cuidar nossa verdadeira missão.

Foi um Dia das Mães e um Dia da Enfermagem especial. Ano que vem as datas não coincidirão, mas a missão, sim.

TCBC Alfredo Guarischi

Artigo publicado no Jornal O Globo online, edição do dia 14/05.