Histórias que inspiram – Cirurgião que sobreviveu à COVID-19 conta experiências que viveu na UTI

Além de ter sonhos que não esqueceu, médico afirma que agora tem outra visão da vida

Para começar o ano com histórias que inspiram, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) traz a experiência de superação do médico cirurgião ginecológico e obstetra, Luiz Carlos Santos, 58 anos, que superou a COVID-19 e agora tem uma outra visão do mundo. Casado há 35 anos e com dois filhos – uma médica cirurgiã e um engenheiro elétrico -, Santos sofreu uma queda no início do ano passado e começou a sentir fortes dores musculares. Em virtude da intensidade da dor, ele decidiu fazer uma tomografia no Hospital Geral de Camaçari, na Bahia, para verificar se havia alguma fratura óssea. “Foi constatada a imagem típica da COVID, já com comprometimento de 80% dos pulmões. Relutei no momento, na sensação de negação da doença. Tentei esconder este processo todo, mas em casa minha filha acabou vendo o laudo do exame e pediu para que eu fosse ao hospital fazer uma avaliação”, conta.

No dia 29 de março, o médico foi avaliado no Hospital Aliança e, apesar de não ter sintomas respiratórios, perdeu o paladar e sentia muito cansaço. “Inicialmente associei o cansaço com o problema da lesão muscular. Mas quando o médico me examinou, ele não acreditou no laudo pelo quadro que eu apresentava. Ele me avaliou, solicitou uma nova tomografia e fui internado. Eu só me recordo da coleta de sangue para fazer a gasometria e não me lembro de mais nada do internamento”, afirma.

Batalha pela recuperação

O cirurgião foi infectado com gravidade pelo novo coronavírus logo no início da pandemia. No primeiro dia de internamento, Santos teve que ser entubado e permaneceu assim na UTI por 16 dias. Após despertar, teve que ser traqueostomizado. “Fiquei em estado bem grave, mas graças a Deus foram surgindo respostas às medicações e eu acordei no dia 16 de abril. Ali eu identifiquei que estava internado, mas não tive momentos de pânico ou terror. Aceitei bem a situação e estava torcendo pela minha recuperação. Eu tive muito apoio da equipe multidisciplinar do Hospital Aliança, que me acolheu e conseguiu me curar da doença”, ressalta.

Além do apoio de todos os profissionais que se dedicaram durante a sua recuperação, Santos acredita que as orações e vídeos que recebeu de amigos, colegas, pacientes e familiares contribuíram para sua melhora. Com 11 quilos a menos, o médico ficou sem andar, falar, não conseguia comer por causa do tremor das mãos, perdeu a visão de perto e não conseguia escrever. O processo de recuperação foi longo e lento. “Eu me empenhei bastante fazendo fisioterapia de manhã e de tarde intensivamente, sem reclamar de nada, mesmo sentindo dores. Eu sempre acreditei que tinha que dar o melhor de mim para me recuperar. Só tenho a agradecer a todos que me deram atenção e me aplaudiram no dia da minha alta”, declara.

Sonhos e uma nova visão da vida

Durante o internamento, Santos conta que vivenciou tudo o que se fala de experiências de UTI. Ele teve muitos sonhos com a infância, com a casa que morava quando era criança, com a família e os amigos. “Uma coisa interessante que as pessoas comentam e eu presenciei também foi que vi uma luz muito intensa no meu sonho, com música religiosa. Acredito que era um portal do céu e quando eu ultrapassava, eu ficava bom de todas as dores que estava sentindo. Se isso for realmente verdade, eu vou dizer que sim, eu vivi, sonhei e não esqueci. Acredito que tudo isso teve relação com a minha recuperação”, observa.

Depois de sobreviver à doença que já matou milhares de pessoas pelo mundo, o cirurgião destaca que a experiência mudou a sua forma de enxergar a vida. “Eu acredito que você não tem que deixar para amanhã o que pode fazer hoje e temos que ajudar as pessoas. A vida é um triz, de uma hora para outra você a perde. E as coisas que poderia e deixou de fazer não tem mais sentido nenhum, porque você já se foi. Agora, estou mais presente com a minha família, meus filhos, minha esposa e agradeço muito o que fizeram por mim. Estou muito feliz por dar este relato e quero dizer às pessoas que tenham muita fé em Deus e muita perseverança, agradecendo sempre todos os dias por acordar, enxergar o mundo e sentir estar vivo”, finaliza.