Indígenas e Viroses

ECBC Alfredo Guarischi

“Os historiadores devem trazer os relatos dos vencedores e dos vencidos, porque conhecer a real história ajuda entender o presente”.

George Custer (1839-1879) ficou classificado nos últimos lugares de sua turma da West Point, a mais famosa academia militar dos EUA. Mas, por sua liderança, aos 23 anos foi promovido a General voluntário, durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). Passada a guerra, recebeu o cargo oficial de Tenente-Coronel e foi enviado para lutar na guerra contra os índios no Oeste.

Em 1876 comandava o Sétimo Regimento de Cavalaria na Batalha de Little Bighorn contra uma coalizão de tribos. Sua estratégia custou sua vida, de seus familiares e de centenas de comandados que seguiram, sem discutir, sua liderança. Para alguns historiadores, se Custer tivesse sobrevivido, deveria ser levado a julgamento – corte marcial – por seu mau julgamento, apesar dos relevantes serviços que prestou durante sua vida militar.

Brett Crozier, comandante do Porta-Aviões USS Roosevelt, foi demitido por ter enviado um e-mail ao comando da Frota Naval Americana, com cópia para outras pessoas, sobre o número crescente de pessoas infectadas pela Covid-19 a bordo de seu navio. A mensagem vazou e foi publicada pelo jornal San Francisco Chronicle. Isso ocasionou sua demissão pelo secretário da Marinha, Thomas Modly, que considerou que ele havia criado uma “tempestade de fogo” e de ter um “mau julgamento” em situação crítica, o que é incompatível para o cargo.

Modly, em longa carta à tripulação do Roosevelt, lembrou que “todos têm o dever de ser transparentes com suas respectivas cadeias de comando (…) o que exige coragem, mas cautela, no trato das informações compartilhadas (…)”. Considerava Crozier, apesar desse lapso de julgamento, um homem honrado e dedicado à nação. Dias depois, Modly foi obrigado a pedir demissão após ser revelado um áudio no qual chamou Crozier de “estúpido”.

O futuro de Crozier não sabemos.

Theodore Roosevelt (1858-1919), que deu nome ao porta-aviões, foi comandante da Brigada de Cavalaria dos Rough Riders durante a Guerra Hispano-Americana (1898), em Cuba. No final da guerra, parte da tropa estava com malária e febre amarela. A necessidade do retorno das tropas era óbvia, mas, diante da resistência do alto comando, o coronel Roosevelt fez um relatório ponderando que “(…) se formos mantidos aqui, significará um desastre terrível (…) não apenas do ponto de vista das vidas perdidas, mas a ruína da eficiência militar (…) seis semanas em outro lugar onde o germe não pode se propagar nos deixaria tão capazes para participar de futuras batalhas (…)”. A publicação do relatório pela Associated Press gerou um grande impacto na opinião pública, sendo o Presidente William McKinley (1843-1901) acusado de não cuidar das tropas americanas. Furioso, ele ordenou o envio de navios para trazê-las de volta e criou instalações para abrigar os soldados infectados. Para o público pareceu que isso só aconteceu devido ao relatório.

O Alto Comando Militar se recusou a endossar a recomendação de Roosevelt para a Medalha de Honra do Congresso. Mesmo sucedendo McKinley como presidente, apenas recebeu a merecida medalha 80 anos após sua morte.

Os historiadores devem trazer os relatos dos vencedores e dos vencidos, porque conhecer a real história ajuda entender o presente.