Suplementos desnecessários

Quando uma pessoa precisa de suplemento alimentar para ficar saudável?

A resposta é muito simples: quando há deficiência de algum elemento essencial que não pode ser ingerido na alimentação cotidiana.

Certo?

Não é o que pensa mais da metade dos adultos norte-americanos, conforme constatou recente estudo publicado na Revista da Associação Médica Americana.

Nessa importante publicação científica, acessível de forma gratuita na internet, foram identificados mais de 700 suplementos alimentares adulterados produzidos por mais de 140 companhias. A maioria desses “suplementos” foi utilizada visando à melhoria da atividade sexual , para perder peso e para o aumento da musculatura. Em um de cada cinco produtos havia mais de um ingrediente não aprovado para aquela finalidade, sendo os mais comuns o sildenafil (para atividade sexual), sibutramina (para perda de peso) e hormônios (para aumento da massa muscular).

Apesar de a FDA (Food and Drug Admininstration), que é o órgão que controla o uso de medicamentos e suplementos nos EUA, advertir os fabricantes, esses laboratórios inescrupulosos alteram ligeiramente a fórmula de seus produtos; desse modo, continuam lucrando com consumidores iludidos ou desavisados nesse comércio milionário de cerca de 35 bilhões de dólares.

Por serem rotulados como produtos alimentares, sua venda não exige prescrição médica, mas há exigência legal para que o fabricante notifique qualquer evento adverso. No entanto, algumas indústrias inescrupulosas tornam público de forma voluntária menos da metade dos problemas identificados.

Os produtos químicos que fazem parte dessas formulações podem ser prescritos com segurança, desde que na dosagem adequada e controlados por médicos especialistas. Seu uso aleatório pode resultar em interações perigosas com outros medicamentosas ou produzir mudanças das condições de saúde prévias do indivíduo, o que pode levar até à sua morte.

A necessidade de suplementação alimentar só deve ser feita consultando um especialista, que, com base no histórico do paciente, achados do exame físico e eventuais exames de laboratório, poderá avaliar a real necessidade do uso de um complemento específico. Na maioria das vezes, o problema pode ser sanado com uma reeducação alimentar e da atividade física, medidas mais simples, baratas e eficazes.

Não há a menor dúvida de que esses “suplementos” são largamente consumidos no Brasil. Diariamente, chegam às nossas emergências pacientes de boa condição social e econômica em situações clínicas graves inexplicadas, apenas esclarecidas tardiamente, quando os próprios pacientes ou seus familiares revelam que eles usavam esses produtos, por muitos considerados “naturais” e, portanto, “não perigosos”.

Fica esse alerta para quem faz compra pela internet ou pede a um amigo para trazer do exterior “aquele super suplemento”, ludibriado por anúncios, alguns protagonizados por pessoas famosas.

TCBC Alfredo Guarisch

Artigo publicado no jornal O Globo – edição de 23/10/2018.