Trombose venosa e as viagens prolongadas.

A trombose venosa profunda (TVP) ocorre quando um coágulo sanguíneo se forma, sendo mais frequente nas veias dos membros inferiores. Em algumas situações uma parte do coágulo pode se desprender e se alojar nos pulmões, ocasionando uma embolia pulmonar, doença grave e que pode ser fatal.

A associação entre TVP e viagens aéreas foi relatada pela primeira vez há mais de 50 anos, como uma raridade médica. Contudo, com o aumento do número dos passageiros transportados por longas viagens, tornaram-se mais comuns.

Um grande amigo foi visitar o filho, que trabalha em Singapura. A viagem aérea, saindo do Rio de Janeiro, duraria um total de 23 horas, sendo que em um dos trechos seriam 14 horas de voo, a mais de 10 mil metros de altura.
Ele estava preocupado, pois tinha mais de 60 anos de idade, obeso (espero que nunca leia este texto, pois se acha um “atleta”), e havia sido submetido a uma cirurgia há menos de três meses. Lera que suas características eram fatores de risco para TVP durante a longa viagem. Alguns colegas de jogo de pôquer disseram que isso era a “síndrome da classe econômica”.

Resumindo a historia, Bruno, seu nome fictício, fez uma viagem tranquila como a imensa maioria das 400 milhões de pessoas que viajam em vôos de longa distância a cada ano, mas, por orientação médica, foi medicado com um anticoagulante sub-cutaneo no dia do voo e pelos dois dias subsequentes. Bebeu bastante água durante o voo, não tomou alcool, segundo ele, um verdadeiro martírio. No seu retorno, ficou no assento do corredor, o que facilitou suas caminhadas durante o voo.

A associação entre TVP e viagens aéreas, bem como as de carro, ônibus ou trem, é pouco estudado, pois grande parte das tromboses são pouco sintomáticas e confundidas com dores musculares ocasionadas pelo desconforto destas viagens. Apesar da alta altitude do voo poder ocasionar a ativação da coagulação, mesmo numa cabine pressurizada – a hipóxia hipobárica-, o aumento do risco de trombose decorre principalmente ao ficar sentado por longo período numa poltrona estreita, com sua borda fazendo pressão na parte posterior da perna, o que contribui para diminuir o fluxo nas veias.

Fica a recomendação de mover suas pernas com frequência e exercitar os músculos da panturrilha, pois isso vai melhorar o fluxo de sangue. Levante e estique a pernas sempre que possível. Pode ser útil o uso de meias de compressão graduadas abaixo do joelho e devidamente ajustadas de modo a não comprimir sua parte posterior, onde passam as veias popliteas. Se a pele ficar marcada, estará havendo uma compressão excessiva, o que vai ser maléfico.
A profilaxia farmacológica para viajantes de longa distância deve ser decidida individualmente.

Converse com seu médico para saber mais sobre seus riscos individuais e como prevenir coágulos sanguíneos.

Boa viagem.

TCBC Alfredo Guarischi

Artigo publicado na edição do dia 26/03 na edição on-line do Jornal O Globo.