Artigo: Vinhos e médicos

Assim como a saborosa bebida, um profissional da saúde precisa passar por ‘amadurecimento’ para conseguir gerar efeitos benéficos

O vinho tem uma história de mais de 7 mil anos. Conhecido na Antiguidade como uma droga universal, pelos seus aspectos religiosos e propriedades médicas, deve ser consumido com moderação.
É possível fazer vinhos de cereais e de outras frutas, mas é o de uva que desempenha o papel mais plural para a humanidade. Com diferentes variedades e leveduras são produzidos distintos estilos de vinho, resultado de complexas interações.

O processo começa com a colheita da uva, de acordo com seu tipo e as condições climatológicas. Na vinícola, os cachos são separados da fruta, e suas cascas rompidas, de forma manual ou em máquinas sofisticadas. Chega então a fase da fermentação, onde toda a “mágica” acontece. Os vinhos em seguida passam por reservatórios para eliminar impurezas; amadurecem em barris – como nos tradicionais tonéis de carvalho –, tornam-se mais “macios” ao paladar.

Após passar por todas essas etapas, são engarrafados e deixados em repouso. Eles então se estabilizam e se recuperam de uma possível “doença da garrafa”, causada pela agitação do líquido durante o envasamento. Podem repousar por dias, semanas ou meses, porém alguns podem assim permanecer por muitos anos, até serem consumidos. Quando armazenados adequadamente, podem melhorar sua qualidade à medida que envelhecem, mas, sendo perecíveis, estragam quando expostos a situações inadequadas.

Todo esse processo envolve um grande número de pessoas da indústria do vinho, como os profissionais que cultivam as uvas, preparam a bebida, fazem o engarrafamento e servem o cliente.

Os vinhos tornaram-se um negócio bilionário, sendo atualmente produzidos em grandes e competitivas indústrias. Apesar dos mecanismos de regulamentações existentes, são fruto de cobiça e fraudes, como a rotulagem incorreta da sua origem e o uso de produtos químicos na sua formulação.

Vinhos sem qualidade ou mal armazenados viram vinagre ou são um perigo para a saúde. Ainda hoje os melhores vinhos são feitos artesanalmente, com produção limitada, mas a um custo final muitas vezes mais acessível que o de marcas industriais famosas.

E os médicos?
Não são tão antigos como os vinhos, mas passam por um processo longo e cuidadoso em sua “fabricação”, “envelhecimento”, “rotulagem” e “armazenamento”, para que seus efeitos benéficos sejam sentidos. Os professores são o fermento de suas maiores transformações. Porém, a medicina vem sendo dominada pela “indústria da saúde”, que é atualmente a principal causa de dor de cabeça dos brasileiros.
Os médicos, como os vinhos, não deveriam ser escolhidos pelo rótulo ou pelo estilo da garrafa, mas procurando saber seu D.O.C – “Denominazione di Origine Controlada”.
Saúde!

TCBC Alfredo Guarisch

Artigo publicado no jornal O Globo no dia 31/07/2018.