Luana está curada

“Foram muitas as suposições, até que o temido diagnóstico de tumor maligno abalou todos em casa”.

 TCBC Alfredo Guarisch

A pequenina Luana apresentou um corrimento no nariz que foi piorando dia a dia. Foram muitas as suposições, até que o temido diagnóstico de tumor maligno abalou todos em casa, sendo necessário decidir entre a radioterapia, que exigiria anestesia a cada sessão, ou a quimioterapia.

A difícil escolha coube à “mãe de coração” da pequena Luana, pois sua mãe biológica, mesmo que estivesse presente, não entenderia a dimensão do problema.

Foi excelente a resposta aos quimioterápicos, especialmente à asparaginase, um produto medicamento biológico descoberto em 1953, quando pesquisadores constataram que um linfoma de ratos regredia após o tratamento com soro de porquinho-da-índia. Posteriormente descobriram que duas bactérias cultivadas em laboratórios especializados produziam esse produto biológico em abundância e com a segurança necessária para o tratamento de algumas formas de leucemias e linfomas em humanos. No entanto, ela ainda não é produzida no Brasil.

Por esse motivo, a “família de coração” de Luana se mobilizou, e, graças à doação de uma amiga canadense, a pequenina foi tratada no tempo com a asparaginase de qualidade comprovada e utilizada nos melhores centros oncológicos da Europa.

Deu tudo certo! Foi excelente a resposta aos quimioterápicos, especialmente à asparaginase, um produto biológico descoberto em 1953, quando pesquisadores constataram que o linfoma de ratos regredia após o tratamento com soro de porquinhos-da-índia. Genialmente, também descobriram que duas bactérias cultivadas em laboratórios especializados produziam esse medicamento em abundância e com a segurança necessária para o tratamento de algumas formas de leucemias e linfomas de humanos. Um exemplo de como é possível fazer um belo trabalho de pesquisa envolvendo biólogos, veterinários e médicos

No entanto, no Brasil continuamos não produzindo a asparaginase. Por esse motivo, a “família de coração” de Luana se mobilizou, e, graças à doação de uma amiga canadense, a pequenina foi tratada com uma asparaginase utilizada nos melhores centros oncológicos do mundo. Também não faltou a Luana carinho e estímulo o tempo todo para comer, tomar sol e brincar, e isso a deixou com o melhor astral possível. Agora ela está alegre na fase de vigilância pós-tratamento. Sua “mãe de coração” foi quem me contou essa bela história do sucesso na terapia de sua gatinha — sim, Luana é uma gata doméstica.

Conheci seu médico-veterinário, com quem lamentei que a maioria das nossas criancinhas com problemas semelhantes ao de Luana e que dependem do sistema público de saúde é tratada com medicamentos baratos, como determina a Lei de Licitações, desconsiderando a segurança e a eficácia, como exige a ética. A origem de tudo decorre da falta de uma política de saúde adequada, o que favorece a corrupção, o maior de nossos males, além de permitir aos cartéis internacionais venderem o mesmo produto por valores diferenciados, dependendo de quem o importa. Essa é uma brecha burocrática para que laboratórios de qualidade questionável vençam as concorrências com suas “mercadorias baratinhas”, mas sem os estudos clínicos fundamentais, o que é eticamente inaceitável.

A luta continua, para que nossos Joãos e Marias possam ter o mesmo tratamento de Luana. Esse é o Brasil que eu quero. *

*TCBC Alfredo Guarisch

Publicado no O Globo em 16/05/2018