Conferência internacional debate o uso de tecnologias para melhorar práticas cirúrgicas e promover a colaboração

Dois aspectos diferentes do uso de tecnologias para melhorar as cirurgias e promover a colaboração entre cirurgiões foram abordados em conferência internacional realizada na manhã de sábado (04). O encontro integrou a programação do 34º Congresso Brasileiro de Cirurgia, que aconteceu de 2 a 5 de setembro, de forma virtual.

O primeiro tema foi o uso de mídias sociais por cirurgiões, apresentado pelo professor de cirurgia da Universidade Complutense de Madrid e diretor médico do Hospital San Carlos Julio Mayol. Em seguida, o professor de cirurgia da Universidade de Toronto e fundador da startup Surgical Safety Technologies Teodor Grantcharov falou sobre o uso da ciência de dados para aumentar a segurança de cirurgias.

Luiz Carlos Von Bahten presidiu a conferência, que contou também com a presença de Ramiro Colleoni Neto e Leonardo Emilio da Silva como debatedores.

Mídias sociais para cirurgiões

Com a palestra “Social media for surgeons”, o cirurgião Julio Mayol procurou mostrar como os cirurgiões podem fazer uso das mídias sociais e quais os benefícios desse uso.

Conforme ele, como essas mídias são plataformas para compartilhamento de informações que ligam qualquer pessoa conectada à internet, elas podem contribuir para a formação de ecossistemas globais nos quais ocorre a troca de informações sobre cirurgia. “As mídias sociais podem unir e conectar cirurgiões de todo o mundo promovendo a colaboração”, afirmou.

Mayol comparou as redes a uma grande sala de conferência, da qual participam profissionais de cirurgia de todo o mundo, além de aprendizes, curiosos e os próprios pacientes. Assim, elas se tornam um local propício ao processo de aprendizagem e treinamento, de disseminação de conhecimento, e de contato e colaboração.

Caixa-preta do centro cirúrgico

Teodor Grantcharov apresentou a palestra “OR Black Box: using data science to improve surgical safety”, na qual falou sobre a importância de usar dados das cirurgias para aumentar a segurança no centro cirúrgico e também sobre o produto criado pela startup Surgical Safety Technologies, o OR Black Box.

De acordo com Grantcharov, a ideia de que bastam equipes qualificadas e equipamentos modernos para que uma cirurgia seja segura está superada, porque eventos adversos provocados pela própria prática médica continuam acontecendo, comprometendo a segurança das cirurgias – e, consequentemente, a confiança dos próprios pacientes nestes procedimentos.

A saída, conforme o médico, é usar dados das próprias cirurgias para entender como mitigar riscos e melhorar o processo, algo que já é feito, por exemplo, no âmbito dos esportes. Foi pensando nisso que a Surgical Safety Technologies criou a OR Black Box, uma caixa-preta que grava tudo o que foi feito dentro do centro cirúrgico.

“Ela opera por meio de inteligência artificial, monitorando a ocorrência de efeitos adversos e tantos outros parâmetros de interesse que utilizamos para gerar feedback e tornar os centros cirúrgicos mais seguros”, explicou. Além disso, permite entender os fatores que afetam o desempenho do cirurgião. Estresse, por exemplo, aumenta em 66% a ocorrência de efeitos adversos.

Discussão

Após as apresentações, os debatedores comentaram os temas e colocaram alguns questionamentos sobre eles. Neste momento, Mayol reconheceu que há um lado negativo das redes sociais, mas que o uso responsável delas depende dos indivíduos. “Devemos ser profissionais, estar cientes da questão da confidencialidade dos pacientes, conhecer as legislações sobre isso e ser inteligentes, usar os dados para tomarmos boas decisões”, disse. Ele recomendou ainda que se façam conexões com pessoas e instituições confiáveis.

Por sua vez, Gratcharov explicou que, para evitar problemas, a OR Black Box foi projetada para garantir a confidencialidade dos dados tanto de pacientes quanto de cirurgiões. Para isso, o próprio sistema faz a “desidentificação”, ou seja, apaga as informações que possam identificar os atores envolvidos na cirurgia. Explicou ainda que o sistema também é pensado para a colaboração, pois a partir dele os médicos conseguem perceber as melhores práticas e trocar informações sobre isso com seus pares.